segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Inovação Curricular na EJA em Sergipe


(Trabalho apresentado no V Encontro de Formação de Professores – edição internacional e VI Fórum Permanente de Inovação Educacional, 2012, Unit: SE)

Título: PRÓ-DOCÊNCIA PARA EJA (PIBIX 2011 – 2012): DADOS PRELIMINARES
                                                                  
                                                            Profa. Dra. Maria Josefa de Menezes Almeida(*)
                                                            Giselma Machado(**)
Resumo
Este texto apresenta a proposta do primeiro projeto institucional para o desenvolvimento da competência docente para atuar junto ao público discente da modalidade educativa da Educação de Jovens e Adultos da Universidade Federal de Sergipe. Ação promovida pelo Grupo de pesquisa CNPq – Saberes Escolares e Práticas Pedagógicas para EJA- Seppeja/UFS através do PIBIX/UFS (2011-2012). Sua concepção e realização, inseridas no contexto da inovação pedagógica, consideram a orientação interdisciplinar e intercultural, a partir do desenvolvimento prioritário da prática da leitura e da escrita por todos os componentes curriculares, na aplicação do Curso: Aprofundando saberes na EJA.

Abstract
This article presents the proposal of the first institutional project for the development of teaching skills to work with the public educational modality’s student of Youth and Adult Education, of the Federal University of Sergipe, sponsored by CNPq Research Group - Knowledge School and Teaching Practices for Adult Education - Seppeja / UFS by PIBIX/UFS (2011 – 2012). Its conception and construction, into the context of educational innovation, consider the interdisciplinary and intercultural orientation, from the priority development of the practice of reading and writing curriculum for all components in the application of the Course: Deepening knowledge in adult education.

Palavras-chave: Pró-docência; Formação Docente; Educação de Jovens e Adultos.

Introdução
            Pensar a oferta de educação de jovens e adultos (EJA) implica o compromisso de profissionais capazes de atuar na elaboração de estratégias de ensino que facilitem o desenvolvimento de competências e de habilidades necessárias ao mundo e à realidade sócio-política dos alunos da EJA. Na atualidade, em face de tal contexto, é premente e necessária a oferta de cursos de formação inicial e continuada para professores que lidam ou lidarão com esse nível de ensino, uma vez que o trabalho com alunos da EJA exige mudanças significativas de foco na intervenção pedagógica e na metodologia de ensino e, principalmente, na concepção de educação, inclusão social e de cidadania (ALMEIDA, 2012).
            Por esta razão, O Grupo de Pesquisa: Saberes Escolares e Práticas Pedagógicas para Educação de Jovens e Adultos (Seppeja/UFS), criado no âmbito do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe (Codap/UFS), ciente de seu papel na promoção da reflexão sobre a atuação profissional na modalidade EJA, promove a realização de um conjunto de ações a contribuir com o referido tema. Processo inicial desenvolvido em Sergipe para contemplar a necessária Formação Docente para a Educação de Jovens e Adultos através do Projeto: Pró-docência para a EJA. Atendendo ao edital lançado pela PROEX/UFS, submete a proposta desta realização para desenvolver a extensão universitária vinculada ao ensino e à pesquisa, em consonância com o tripé da ação universitária: ensino-pesquisa e extensão, atividade aprovada e financiada com recursos do PIBIX – 2011-2012, através da consecução de um bolsista.
           
I- Fundamentação Teórica
            Neste início de século, estamos vivendo as perplexidades, os desafios e as incertezas que o acompanham. De um lado, as novas tecnologias revolucionando os meios de comunicações, difundindo a informação e interferindo no mercado de trabalho, com novas exigências para ingresso no mesmo; de outro, índices significantes de analfabetismo e pouca escolaridade que atinge grande parte da população. Haddad (2002), afirma que grande parte dos excluídos do sistema formal de ensino acaba por se deparar com a necessidade de realizar sua escolaridade enquanto adolescentes ou adultos, entretanto, na maioria das vezes, este ensino se distancia do olhar deste público-alvo, promovendo e ofertando a estes um processo de ensino inadequado.
            Embora seja papel da Educação de jovens e adultos (EJA) a tentativa de contemplar aqueles que não tiveram oportunidade educacional em idade comum à escolarização da educação básica, ou que a tiveram de forma insuficiente segundo a Constituição brasileira (BRASIL, 1996) e Lei de Diretrizes e bases para a Educação brasileira (BRASIL, 1998) e Diretrizes Curriculares para a EJA (BRASIL, 2000). É neste contexto que se encontram as mais variadas formas de preconceito e exclusão social, registradas inclusive pela inexistência de processo de formação docente específica para atender adequadamente a esta modalidade educativa e seu respectivo público estudantil (ALMEIDA, 2012).
            É inconteste que a aparência de legitimidade das desigualdades sociais está presente na modalidade de EJA tanto na legislação que a normatiza quanto na cultura escolar. A LDB garante a “oferta de educação escolar para jovens e adultos, com suposta característica e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades”, no entanto também se questiona: “Garante aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola” (BRASIL, 1996, Art. 4º, VII). O certo é que não legitima a diversidade desses, como grupos sociais na sociedade que devem ser tratados com respeito, dignidade, equidade e justiça social (Di PIERRO, 2001)
            Por isso, faz-se condição “sine qua non” investir em iniciativas de formação docente que possam contribuir para enriquecer, dinamizar e incrementar o trabalho docente na EJA preparando o seu profissional para entender e utilizar no processo ensino-aprendizagem a se desencadear, as percepções dos alunos, seus saberes, suas culturas como elemento constitutivo desta ação a fim se estabelecer para este uma educação cuja concepção possa expressar-se como um fazer ao longo da vida, um processo contínuo de formação, de qualificação para a vida a considerar a necessária intersetorialidade na sua execução (UNESCO, 2010).
            Assenta-se ainda, a referida propositura no aporte da Pedagogia Intercultural (AGUADO, 2003, p. 103) que orienta a ação educativa a constituir-se como prática pedagógica capaz de desenvolver a competência intercultural:

“A Pedagogia Intercultural situa as variáveis culturais no centro de toda reflexão sobre a educação. Assume um enfoque diferencial que questiona visões restritivas e marginalizantes para a definição de grupos e indivíduos em função de suas características culturais. Se propõe ajudar a “desconstruir” as visões fundamentalistas da identidade da cultura, a lutar contra a percepção etnocêntrica do outro que leva a encerrá-lo numa representação de caricatura”.

Já Almeida (2012), sugere que a formação para a EJA pode favorecer a existência de um elo significativo entre os interlocutores em sala de aula através da prática da leitura, a promover um movimento contracorrente em relação ao que se estabelece como hegemonia cultural na EJA, a exemplo da supremacia atribuída à variante linguística padrão. Porque, no processo crescente de exclusão social, existem os mais afetados, os "outros", os diferentes, os que não dominam os códigos do senso comum, do elemento cultural dominante em sociedades ocidentais. Estes não têm acesso ao processo de globalização em suas dimensões, situam-se e representam expressões culturais que necessitam resistir á competitividade e consumo como valores fundamentais da vida. Assim como, pertencendo a etnias historicamente subjugadas e silenciadas, necessitam se preparar para questionar estereótipos presentes na sociedade e lutar diariamente pelos direitos humanos básicos que lhe são negados (MACHADO, 2007).
            É por um olhar voltado para estes, que se defende uma ação educativa a refletir estas e outras questões sociais a partir das práticas de leitura e escrita – determinantes para a inserção no contexto de luta por igualdade e justiça social. A recomendação para que haja adequada formação do profissional a empreender esta ação educativa está determinada pelo papel sócio-político desta atuação. Realidade que se define como um sujeito-professor da EJA que se encontrará com um sujeito-aluno da EJA cujas identidades não são reconhecidas. A ausência de uma formação específica para este educador, assim como a falta de uma organização curricular pensada particularmente para a educação desta modalidade educativa a contemplar as aspirações do seu público-alvo tornam-se cada vez mais explícitas e necessárias.
            Ainda que não seja uma questão propriamente nova, somente nas últimas décadas, ela tem se identificado como um problema do contexto educacional brasileiro, ganhando uma dimensão mais ampla. Esse novo patamar no qual esta discussão se coloca, encontra-se intimamente relacionado com a configuração atual do que se define para a Educação de Jovens e Adultos e, por conseguinte, para a sua reorganização curricular a partir do desenvolvimento da competência intercultural (ALMEIDA, 2012) epistemologicamente definida como uma competência transversal ou:

Aqueles conhecimentos, habilidades e atitudes que permitem diagnosticar os aspectos pessoais e as demandas geradas pela diversidade cultural. Permitem negociar, comunicar-se e trabalhar em equipes interculturais e fazer frente às incidências que surgem mediante a auto-aprendizagem intercultural e a resolução de problemas que considerem as outras culturas.  (ANEAS, 2003, apud. ALMEIDA, 2012).

            Na ampliação desse conceito, sob o enfoque holístico, chega-se à qualificação intercultural a qual se agrega o sentido de uma competência, ou preparo para a interação com a alteridade em espaços socioculturais a exemplo da escola. A partir desta visão humanista, identifica-se uma construção epistemológica para o referido termo no sentido de incluí-lo no exercício de tarefas básicas como a reflexão sobre as condições que lhe são oferecidas para executar as suas tarefas profissionais, bem como sobre os processos de interação e expressão cultural a se desenvolver em sala de aula. Não é simplesmente uma questão de competência ou eficiência pessoal, mas neste bojo de significação, se incluem também os atributos do contexto social e organizativo da atividade profissional sendo exatamente neste último elemento, onde se origina a competência intercultural (ANEAS, 2003, apud. ALMEIDA, 2012).
Assim, acredita-se que participar deste projeto propiciará ao aluno de graduação estabelecer uma relação entre texto e contexto, contribuindo para a sua formação como um leitor crítico que poderá redundar futuramente na sua autonomia pedagógica conforme Freire (2010). Em outras palavras, pretende-se, com tal ação contribuir para se construa nos espaços escolares envolvidos práticas sociais de letramento, considerando o que discorre Lerner (2002).
            Assim, este Projeto, ao tempo em que amplia o atendimento á demanda por formação do docente em exercício nesta modalidade educativa, também amplia o atendimento ao público jovem e adulto sergipano, não inserido no contexto escolar, através da sua participação no Curso: Aprofundando saberes na EJA, concebido pedagogicamente sob a orientação dos paradigmas da interdisciplinaridade segundo Santomé (1998) e da Pedagogia Intercultural segundo Aguado (2003) em desenvolvimento desde agosto de 2011. Caracterizando-se também como objeto de pesquisa acadêmica em torno do respectivo tema, bem como da iniciação à docência a realizar-se por alunos procedentes de seus vários cursos de graduação da UFS e profissionais visitantes da comunidade em geral que se apresentaram como estagiários voluntários nesta construção pedagógica.
            Pretende-se, por conseguinte, contribuir para que se estabeleça um novo perfil curricular para a EJA no estado de Sergipe capaz de se refletir no êxito escolar dos seus alunos e, por conseguinte, em nova dimensão social para aqueles que são assistidos pelo processo de escolarização da EJA no estado de Sergipe, estado do Nordeste onde ainda se registram os maiores índices de analfabetismo total do país segundo o IBGE (2010). Ao tempo em que, em consonância com as atuais políticas públicas, em especial as políticas sociais a envolver os estudantes de graduação com a formação para a docência, amplia-se o número destes com a formação docente específica para a EJA, através da participação nesta ação de extensão comunitária, a se desencadear em parceria com o ensino e a pesquisa em torno do referido tema. Também, participar de um projeto de extensão universitária tendo acesso a este aporte teórico possibilitará significativo impacto na formação deste estudante, quer seja no seu aspecto técnico-científico, bem como pessoal e social através da tutoria recebida para o início do seu exercício profissional e produção científica. Espera-se também gerar produtos diversos a respeito do tema em questão através de respectivas publicações a se expressarem em forma de monografias, dissertações, teses, abertura de novas linhas de extensão, ensino e pesquisa nesta instituição.
            Por isso, assumiu-se como objetivo central: Fomentar o intercâmbio entre graduandos da UFS através da partilha de saberes para construção de nova concepção para Educação de Jovens e Adultos (EJA) a fim de se refletirem em um novo perfil curricular e pedagógico para esta modalidade educativa e qualidade da educação conferida àqueles que a buscam dentro do contexto da Educação Básica, promovendo a sistemática formação inicial e continuada dos públicos envolvidos. Ao tempo em que, particularmente, pretende:
·         Analisar os impactos advindos deste processo de formação docente para a EJA entre seus participantes.
·         Aplicar e avaliar metodologias diferenciadas para a EJA dentro da UFS através do seu laboratório pedagógico, Codap/UFS.
·         Incentivar a prática da investigação acerca da aprendizagem na EJA, analisando a relação entre práticas inovadoras, educação para a diversidade, justiça social e funções sociais da EJA em Sergipe.
·         Apresentar nova opção metodológica e curricular para a EJA através de novo material didático para a aplicabilidade desta perspectiva

II – Aspectos Metodológicos
            Através deste projeto, pretende-se concretizar duas ações simultâneas:
a)      formação de professores específica para a EJA – inserção em espaços escolares por graduandos das diversas licenciaturas da UFS, bem como de voluntários da comunidade em geral interessados nesta iniciação no exercício profissional docente, bem como do acompanhamento pedagógico (formação inicial e continuada a partir das perspectivas pedagógica da interdisciplinaridade e interculturalidade)  ao tempo em que desenvolve esta ação docente;
b)      promoção da ação do letramento e da continuidade da escolarização de vários grupos sociais expostos a vicissitudes humanas e sociais identificadas como situações de risco que residem no entorno da UFS e ainda não possuem a escolarização em nível fundamental. Preocupação sócio-educacional com o número significativo de jovens e adultos ainda sem a mínima escolaridade residente em Sergipe.
           
            Execuções simultâneas e interdependentes a se desenvolverem no Codap/UFS através da oferta do Curso: Aprofundando Saberes na EJA. Além da construção cognitiva desenvolvida nos espaços virtuais: www.seppeja.blogspot.com e seppeja@yahoogrupos.com.br, www.eja_no_codap.blogspot.com. Tudo isso a considerar o desempenho e enfoque nas atividades de leitura e escrita dos envolvidos, projeta-se uma formação docente e prática pedagógica baseada na interdisciplinaridade, caracterizado pela interação de modelos e conceitos complementares entre as diversas áreas do saber, exercitados a partir da negociação entre seus pares, ancorados no que preceitua Santomé (1998) orienta-se a referida ação formativa docente e promoção da escolarização de alunos na EJA. Suas atividades indicam a interdisciplinaridade como ação da convergência entre as áreas do conhecimento, buscando a interação teórica e operacional consistente para que se estruture o trabalho pedagógico dos que pretendem a promoção da intervenção pedagógica sobre a realidade social, além da consideração á identidade cultural do público-alvo a que se destina. Segundo Santomé (1998, p.42-43): “É necessário criar situações de ensino-aprendizagem nas quais a relevância dos conteúdos culturais selecionados no currículo possa interagir e propiciar processos de reconstrução junto com o que já existe nas estruturas cognitivas dos alunos”. Assim se pode falar de aprendizagem significativa. O que se exemplifica com o calendário de formação docente inicial e continuada, desenvolvido até então:

Cronograma de atividades – Formação Docente
Facilitadores: Equipe Seppeja/UFS e convidados - Horário: 19:00 às 21:00, sempre às sextas-feiras

Tema
Data previstas
Facilitador Responsável

1º semestre 2011

EJA no universo da Diversidade
29.04
M. Josefa de M. Almeida
Histórico/ Base legal da EJA
06.05
Giselma Machado
Concepção de Leitura e Escrita na EJA
13.05
Jeane Andrade
O sujeito da EJA
20.05
Genivaldo Martires
Perfil do docente para a EJA
27.05
Maria Josefa de M. Almeida
Solicitação de Proposta Curricular baseada num texto
03.06
Giselma Machado
Leitura e História na EJA
10.06
Genivaldo Martires
Revisão de abordagens
17.06
M. Josefa de M. Almeida
Leitura e Ciências Naturais e Biológicas na EJA
01/07
Adeline Sales
Educação Física e EJA
15 /07
Marilia Menezes
Atividade Avaliativa 
17/07
Jeane Andrade


2º semestre 2011

História na EJA - Memória e identidade do sujeito
12.08
Marizete Lucini
Leitura e meio ambiente na EJA
19.08
Viviane Almeida
Empreendedorismo na EJA
26.08
Viviane Marques
Dinâmicas de Grupos para a EJA
02.09
Vilma Torres
Reflexões sobre Metodologia para a EJA
09.09
Giselma Machado
Matemática Financeira Pessoal e Familiar
16.09
Amanda Marques
Reflexões Metodológicas
23.09
Maria Josefa de Menezes Almeida
Planejamento para a EJA – oficina
30.09
Maria Josefa de Menezes Almeida
Avaliação na EJA – leitura e escrita
07.10
Maria Josefa de Menezes Almeida
Saúde para a EJA
14.10
Marcela Varjão
Cultura, identidade e Luiz Gonzaga
21.10
José Augusto de Almeida
Concepções subjetivas do educador e suas implicações para a EJA – permitindo-nos ser criança
04.11
Luiz Prado
Oficina de Educação Ambiental para a EJA
28.10
Viviane Almeida
Projetos Práticos de Ciências para a EJA
18.11
Flávia Santos
Matemática na EJA
25.11
Cristiane Pereira Santos da Cruz
Ano letivo - 2012
Planejamento para o ano letivo – reapresentação do projeto
03.03
Coordenação Geral do Projeto
Leitura de Arte nas salas de EJA
09.03
Marcelo Uchoa
Nutrição e saúde – como abordar em sala de aula na EJA
16.03
Nara Menezes (nutricionista)
As ciências sociais na sala de EJA
23.03
Alan Max
A psicologia e questões de aprendizagem na EJA
30.03
Psicóloga Daiana Alves
Avaliação do Processo – partilha entre os estagiários voluntários
13.04
Jeane Andrade
Que avaliação aplicar na EJA?
20.04
Laura Camila Braz de Almeida
Acompanhamento Pedagógico – produção acadêmica sobre a docência
27.04
Maria Josefa de Menezes Almeida
Reflexões Metodológicas para a EJA
04.05
Giselma Machado

            No bojo das atividades do Curso: Aprofundando saberes na EJA, é possível identificar tanto a ação de alfabetização e letramento inicial (turma 1), bem como a elevação do nível de escolaridade (turma 2 e 3)  reconhecendo as especificidades culturais e do mundo do trabalho dos respectivos públicos atendidos já que sua proposta pedagógica preocupa-se com a abordagem das tradições culturais ou identidade cultural como elemento condutor na educação de jovens e adultos. Na execução das respectivas ações, considera-se também a promoção da incursão ao universo das Tecnologias de Comunicação e Informação - TIC na formação do docente e do aluno da EJA a contar com recursos da internet e com ambientes colaborativos de comunicação.
            Nos demais espaços formativos, desenvolver-se a perspectiva da aprendizagem experimental e colaborativa a considerar os espaços culturais dos cursistas a fim de facilitar sua adesão á proposta e sua respectiva participação. A aprendizagem neste contexto entendida como um o desafio em todos os momentos que a envolvem, visa à ampliação dos conhecimentos, habilidades e atitudes culturais. Assim, exemplifica-se a adoção do modelo dialógico, ou da partilha de experiências. Tal iniciativa assenta suas bases na implantação de um currículo interdisciplinar e intercultural que terá como referência a interdisciplinaridade e interculturalidade a partir de eixos temáticos e da centralidade em atividades de leitura e escrita. Por isso, afirma-se não se trabalha a considerar a convencional grade curricular através de disciplinas isoladas, mas se reafirma o compromisso com um saber totalitário que pode ser partilhado através do desenvolvimento das práticas de leitura e produção textual cujas preocupações se descrevem nesta ordem:
ü  1ª preocupação – letramento
ü  2ª preocupação – leitura e escrita
ü  3ª preocupação –desenvolvimento do caráter intersetorial da EJA – mundo do trabalho, saúde e cultura.
            Esta formação geral é apresentada aos alunos da EJA através de quatro grandes áreas do conhecimento articuladas entre si tanto nas discussões quanto na prática, constituindo uma totalidade: sócio-histórica (História, Geografia, Filosofia e Sociologia), sócio-químico-biológica (Ciências naturais e químico-biológicas), lógica-matemática (Física e Matemática) e de Expressão Cultural (Português, Línguas Estrangeiras e Arte). Os alunos participam de aulas que assumem o compromisso com e desenvolvimento prioritário da leitura e da escrita, e através de seu desenvolvimento, informações mais localizadas, restritas e específicas a cada uma das áreas anteriormente indicadas.
            No que tange ao concernente a cada uma das respectivas áreas, os textos trabalhados a partir da metodologia considerada interdisciplinar. Nessa perspectiva, o aluno é, verdadeiramente, sujeito do processo educativo, ou seja, os conhecimentos e experiências que ele traz, suas condições de aprendizagem, seus interesses, suas necessidades constituirão ponto de partida para o estabelecimento do diálogo no cotidiano do espaço de ensino-aprendizagem. Não obstante, os conteúdos disciplinares integram também as temáticas propostas para estudos, mas não há um privilégio do campo disciplinar na elaboração e desenvolvimento das atividades, já que o privilégio é atribuído ás atividades de leitura e escrita em todas as áreas.
            Tudo isso só é possível com a negociação segundo Santomé (1998) e Yus (2002), o que para Aguado (2003), expressa-se como prática intercultural: “ouvir o outro, dar-lhe espaço, respeitar o seu ponto de vista”. Assumir a complexidade da realidade, segundo Morin (1996). Assim, a interdisciplinaridade será um objetivo nunca completamente alcançado, mas permanentemente buscado a partir de experiências reais de trabalho em equipe. O que envolve conceitos como: imaginação, criatividade, intuição e incerteza. Assumir a incerteza e trabalhar com a confiança de que se está promovendo uma educação que faz bem, porque está fazendo o Bem, parafraseando Bagno (1999).
            Neste processo de formação docente, indica-se também que o professor iniciante, estagiário voluntário, necessita da presença de um monitoramento inicial e pontual através da presença e orientação contínua do coordenador de atividades, para aprender a lidar com esta nova forma de atuar no processo ensino-aprendizagem que se insere no âmbito da perspectiva intercultural no atendimento ao aspecto da diversidade. Daí a concepção de formação continuada, ao longo do processo, construída a várias mãos. Acompanhamento e avaliação sistemática.
            Em relação ao aluno da EJA, uma só é a orientação curricular que está sendo construída ao longo do processo, de maneira flexível, mas respeitando o que determina a Lei de Diretrizes e Bases (LBB): a presença de conceitos básicos de cada disciplina obrigatória no contexto da Educação Fundamental que se expressam através de objetivos a serem alcançados tais como:
·         Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens para constituir significados, expressão, comunicação e informação, bem como utilizar diferentes registros, inclusive os mais formais, sabendo adequá-los às circunstâncias da situação comunicativa que participam.
·         Proporcionar meios para que se vivenciem as possibilidades de cada linguagem artística, pela produção e desenvolvimento para ampliação do repertório expressivo e capacidade de compreensão do mundo no aprofundamento de todo tipo de linguagem.
·         Ler e compreender textos em língua estrangeira e aprender esta língua como forma de interação cultural.
·         Entender as ciências sociais como realização humana, epistemologicamente dinâmica e estruturada a partir de princípios básicos capazes de proporcionar a construção do conhecimento de forma reflexiva e distanciada de definições estanques, a fim de que se possa compreender as concepções que regem a organização social e o mecanismo evolutivo da sociedade.
·         Desenvolver o conhecimento sócio-histórico a partir da formação crítica e entendimento de que todos, independentemente da cor, do gênero e da classe social são sujeitos históricos importantes no processo de construção da história, contribuindo para que se aproprie dos elementos culturais produzidos pelo homem, ao longo de sua caminhada histórica.
·         Desenvolver capacidades comunicativas, na solução de problemas e tomadas de decisões, na produção de inferências, através de conhecimentos e conceitos e procedimentos matemáticos, bem o desenvolvimento da capacidade lógico - matemática para as exigências da vida cotidiana, facilitando o raciocínio dedutivo, desenvolvimento argumentações, reivindicações e tomada de decisões.
·         Proporcionar aos alunos atividades pedagógicas que estimulem a curiosidade, criatividade e reflexão, tendo como princípio básico a realidade cotidiana do aluno, possibilitando-lhes uma melhor compreensão dos princípios biológicos, relativos ao funcionamento do corpo humano, dos animais, plantas e demais seres vivos. Além de compreender os mecanismos adaptativos e evolutivos das espécies, suas manifestações e interações dentro dos ecossistemas presentes na biosfera, posicionando-se de forma consciente e ética em defesa da vida.
            Deste projeto, na interface com a pesquisa, ainda fazem parte pesquisas sobre: a) perfil dos não alfabetizados e das pessoas sem concluir o ensino fundamental, ainda existentes no estado, com vistas a identificar as causas da evasão ou não acesso às políticas educacionais; b) registro e estudo da memória oral e documental da EJA no estado desenvolvidas neste processo, a exemplificar-se futuramente como referência e memória da EJA neste estado e quiçá no país; c) aporte científico do Pró-docência para a EJA contribuindo para a formação de educadores a fim de atuarem na EJA futuramente sua ideia poderá ampliar o quadro do atendimento ao anseio por formação docente. Para estes, considerar-se-á a metodologia de trabalhos oriundos desta participação a partir dos enfoques qualitativos e quantitativos dos dados coletados ao longo do processo desta pesquisa-ação a gerar estudos que se expressarão através da elaboração de textos científicos tais como: memoriais, ensaios, relatos de experiências e projetos, bem como artigos para a publicação deste projeto em eventos de difusão científica acerca da Educação de Jovens e Adultos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
            O referido projeto Pró-docência para a EJA (PIBIX/2011-2012/UFS) se desenvolve como pontapé inicial no exercício da docência acompanhada de formação continuada, promove-se o atendimento à reivindicação por formação de educadores para atuar na educação de jovens e adultos no estado de Sergipe. Ao tempo em que com a formação de turmas do Curso: Aprofundando saberes para a EJA, ações são desenvolvidas, voltadas para a inclusão social nas suas mais diversas dimensões, visando aprofundar ações políticas que venham fortalecer a institucionalização da extensão da UFS em consonância com a formação docente do graduando dos quadros de suas licenciaturas.
                        Em consonância como o que orienta estudiosos tradicionalmente ligados às reflexões sobre a EJA e suas especificidade, como meio de superação de uma prática  educacional  nesta modalidade educativa, executada através de métodos  utilizados  nas  outras modalidades de ensino, tenta-se nesta iniciativa, romper com este estado de acomodação pedagógica e ousar trilhar por um novo caminho que está sendo ditado pela construção coletiva de todos os que dela participam direta ou indiretamente (formadores dos estagiários voluntários, idealizadores do projeto, alunos de EJA com os quais se interage diariamente). Até mesmo, para responder com uma ação firme às discussões relacionadas à necessidade de uma avaliação do sistema de ensino formal, conforme Arroyo (2005, p. 44) afirma:


Superação de estruturas e lógicas seletivas, hierárquicas, rígidas, gradeadas e disciplinares de organizar e gerir os direitos ao conhecimento e à cultura é uma das áreas de inovações tidas como inadiáveis. Nesse quadro de revisão institucional dos sistemas escolares, torna-se uma exigência buscar outros parâmetros para reconstruir a história da EJA. Se a organização dos sistemas de educação formal está sendo revista e redefinida a partir dos  avanços da consciência dos direitos, a educação dos jovens-adultos  tem de ser avaliada na perspectiva desses avanços.

            Assim, acreditando e agindo a partir da admissão de que a EJA, pela sua especificidade, é uma modalidade de ensino que deve ser pensada de forma diferente das outras modalidades educacionais, realiza-se o Curso: “Aprofundando saberes na EJA”. Nesta realização, os sujeitos da EJA que, nas ultimas décadas, tiveram o  acesso  garantido  nas políticas educacionais, mas não  tiveram a possibilidade da permanência,  isso devido a vários fatores econômicos, sociais e culturais que interferiram direta ou indiretamente no seu processo educativo formal, tem nova oportunidade que respeita o seu tempo, a sua disponibilidade, as suas características culturais, apresentando-lhe nova oportunidade de continuar seus estudos sem a coerção da aceleração, da pressa, mas no respeito ao seu ritmo individual, reafirmando-lhe a autoestima, enquanto lhe salienta que a sua educação se desenvolverá ao longo da vida, sem pressa, mas sempre como um acréscimo a servir-lhe para a promoção social, inserção, permanência ou avanço no mundo do trabalho, no desenvolvimento cultural etc.
            Neste contexto, a formação do profissional da Educação  de  Jovens, Adultos  e  Idosos, este é o novo público da EJA, cada ver mais diverso por natureza, pode  assumir-se como importante fator para um possível  sucesso das políticas  de  acesso  e  permanência  nesta  modalidade  de  ensino,  pois  pode representar  o  elo  entre  as  políticas públicas para a sua promoção e  uma  possível  efetivação dessas  na  prática pedagógica  do  professor que nela atua. É através da ação consciente deste educador que já conta se conta com resultados parciais alcançados neste projeto.
            Estes resultados foram resgatados através de diversas técnicas e instrumentos de avaliação para a promoção do monitoramento desta ação cujos resultados se menciona a seguir:
            1- produção científica dos envolvidos na ação de formação docente para a EJA
 a) elaboração de um projeto pedagógico de intervenção local para a construção do currículo da EJA no estado de Sergipe;
b) elaboração de material didático para a sua realização a ser publicado ao final de sua execução;
c) a aspiração à pesquisa científico em torno do tema, uma grande carência em nosso meio através da elaboração sistemática de memoriais descritivos da ação realizada por aqueles que nela atuam cuja publicação se dará oportunamente;
d) apresentação da reflexão parcial desta ação pedagógica realizada em eventos científicos em nível local: VI Eseb – set/2011, III Seminário de formação docente para a EJA- dez/2011, Semana de extensão –Unit/ mar/2012.
            2- Reflexos desta nova feição para a oferta de EJA em contexto escolar, resultados da aplicação no Codap/UFS do Curso: “Aprofundando saberes na EJA”:
a)      êxito escolar - conceito acima de 5,0 em instrumentos de avaliação elaborados a considerar o modelo da Prova Brasil para cada nível de escolarização pretendida;
b)      acréscimo no atendimento aos editais de chamada pública para ingresso – de 35 alunos no 2º semestre de 2011, passando para 150 alunos no 1º semestre de 2012.
c)       prática da EJA a considerar a intersetorialidade: 1) em relação à Saúde – exame oftalmológico no HU para todos os alunos; exame nutricional acompanhado por nutricionista; encaminhamento para atendimento a dependente químico; 2) em relação à cultura: excursão cultural; visita ao cinema; visita a museus; visita a oceanário; 3) em relação ao trabalho: oficinas profissionalizantes, palestras motivadoras para a inserção no mundo do trabalho.
d)     envolvimento pessoal dos alunos de EJA com a sua escolarização, com o seu desenvolvimento através de nova concepção para o ato de estudar, sobre a escola.
           
REFERÊNCIAS:
AGUADO. Tereza. Pedagogia Intercultural. Mc grill. 2003
ALMEIDA, M. J de Menezes Almeida. A pedagogia intercultural na formação docente: aportes para a educação de jovens e adultos em Sergipe. Tese de Doutorado, UAA, Paraguai, 2012.
ARROYO, Miguel G. Educação de Jovens-Adultos: um campo de direitos e de responsabilidade pública.  In: Leôncio Soares; Maria Amélia  Giovanetti;  Nilma  Lino Gomes. (Org.) Diálogos na Educação de Jovens e Adultos. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
BAGNO, M. Preconceito linguístico – o que é e como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.
BRASIL. Constituição brasileira. Texto mimeografado, Brasília,1996.
BRASIL. Lei de Diretrizes e bases para a Educação brasileira. Brasília,1998.
BRASIL, Proposta Curricular para a Educação de Jovens e Adultos. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 2000.
DI PIERRO, Maria Clara. A educação de jovens e adultos no Brasil. São Paulo, Ação Educativa, 2001. Disponível em: www.acaeducativca.org/relorealc.pdf
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2010.
HADDAD, Sérgio. Educação de jovens e adultos no Brasil (1986-1998). Série Estado do Conhecimento. Brasília, MEC/Inep/Comped, 2002.
IBGE. Analfabetismo: evolução no mundo. 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/datas/alfabetizacao/evolucao.html.
LERNER, D. Leitura e escrita na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002.
MACHADO, M. M. (2007) A atualidade do pensamento de Paulo Freire e as políticas de Educação de Jovens e Adultos. Conferência de abertura do IX ENEJA, Pinhão/Faxinal do Céu/Paraná, setembro. Disponível em http://www.reveja.com.br. 
MORIN, E. O problema epistemológico da complexidade. Publicações Europa- América, 1996.
SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e interdisciplinaridade: o currículo integrado. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul Ltda, 1998.
UNESCO, 2010. Conferência Internacional para a Educação de Adultos, Marco de Belém, 2010.
YUS, Rafael. Educação Integral: uma educação holística para o século XXI. Porto Alegre: Artmed, 2002.

Um comentário:

  1. A EJA pode desempenhar um papel de grande importância na vida de pessoas que por alguma forma não pode se aplicar aos estudos. A busca por meios de ensino é fundamental para oferecer uma educação reparadora. Que possamos permanecer buscando novas alternativas.

    ResponderExcluir