segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Formação Docente para EJA a partir da Pedagogia Intercultural


Trabalho apresentado no V Encontro de Formação de Professores – edição internacional e VI Fórum Permanente de Inovação Educacional. Unit: SE, 2012
Título: PROPOSTA PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EJA: PRATICANDO A PEDAGOGIA INTERCULTURAL
      Profa. Dra. Maria Josefa de Menezes Almeida (*)
Resumo
Este trabalho apresenta um programa para a formação continuada de professores da Educação de Jovens e Adultos (doravante EJA) como resultado da tese defendida para a obtenção do título de Doutora em Ciências da Educação pela Universidad Autónoma de Asunción em janeiro deste ano. Analisada a ausência de investimentos na formação docente específica para atuar junto à EJA no Brasil, investigou-se a influência de um inovador programa de formação docente baseado no desenvolvimento da competencia intercultural. Sua legitimidade se determinou a partir dos impactos positivos identificados na prática docente após a participação destes professores na proposta inédita do Curso: “Pedagogia Intercultural com ênfase na identidade cultural”.

Abstract          
This paper presents a program for continuing training of teachers of Youth and Adults (Hereafter EJA) as a result of the thesis to obtain the title of Doctor of Science in Education from the Universidad Autónoma de Asunción in January of this year. After examining the lack of investment in teacher training, specific to work with the EJA in Brazil, we investigated the elaboration of a program of teacher training based on the development of intercultural competence as a theoretical basis for the Intercultural Pedagogy. Its legitimacy was determined from the impacts from the participation of the sample (N = 17) of self-selected teachers in the proposed unpublished of the Course: "Intercultural Pedagogy with emphasis on cultural identity."

Palavras-chave: Formação Docente; Pedagogia Intercultural; Educação de Jovens e Adultos.

Introdução
            Este estudo sobre a problemática envolvendo a formação docente para Educação de Jovens e Adultos (EJA) desenvolvido em Sergipe, parte da constatação da lacuna existente em relação á formação docente específica para atuar nesta modalidade educativa conforme Cury (2000), Haddad (2005), Di Pierro et all (2005), Machado (2007), Soares (2010). A partir de então, assume-se o compromisso de apresentar uma proposta inédita para atender a essa demanda ao tempo em se apoia na visão crítica a respeito da formação de profesores, especialmente em Aguado (2003), Moreira e Candau (2008) e (Freire, 2010), gestando-se o Curso: “Pedagogia intercultural com ênfase na identidade cultural” - instrumento de intervenção pedagógica sobre a realidade da amostra de profesores estudada.           
           
            Para tanto, elege-se a competência intercultural (Aneas, 2003) como dimensão intercultural (Aguado, 2003) tomando a identidade (Hall, 2000; Silva, 2000 e Canclini, 2004) como ponto de partida para o desenvolvimento da aprendizagem. Na tentativa de preparar o professor para atuar junto à EJA ainda encarada no país sob a égide de estigmas históricos conforme Galvão e Di Pierro (2007) e contribuir para que esta modalidade educativa seja contemplada a partir das diretrizes traçadas nos Relatórios da Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura (UNESCO, 1997; 2010) que recomendam a consideração ao aspecto intercultural em seu contexto curricular.
            Assim, delineia-se esta proposta para a formação continuada do docente da EJA que atua especialmente no Ensino Fundamental (1º ao 9º ano), investigada a partir de um desenho quase-experimental intragrupal que trabalhou com: 1) tomada de consciência sobre atitudes presentes no convívio escolar como desrespeito aos pertences alheios, agressões físicas e psicológicas em desrespeito ao outro; 2) estabelecimento da hegemonia cultural e práticas que expressam a intolerância e etnocentrismo entre turmas, alunos ou entre professor e aluno; 3) reflexão sobre o despreparo para lidar com o conflito das diferenças; 4) exercícios de aprendizagem experimental e colaborativa; 5) revisão de propostas educativas utilizadas no cotidiano.
            Este estudo perseguiu o objetivo central de determinar a influência de um Curso baseado na Pedagogia Intercultural com ênfase na identidade cultural sobre a atuação do docente na Educação de Jovens e Adultos em Sergipe. A partir dos objetivos específicos de: a) Descrever a identidade cultural dos projetos curriculares para a EJA em Sergipe através da análise documental destes; b) Indicar os mecanismos de formação docente promovidos para professores de EJA em Sergipe em entrevista semi-estruturada a coordenadores da EJA; c) Identificar, no máximo, o nível 2 (escala 1-5) de competência intercultural, na relação intrasujeito, antes da participação no Curso: “Pedagogia intercultural com ênfase na identidade cultural” no pré-teste; d) Determinar a validade do Curso: “Pedagogia intercultural com ênfase na identidade cultural” a partir do avanço para, no mínimo, o nível 4 (escala 1-5) de competência intercultural, na relação intrasujeito e intersujeito, no pós-teste; e, por fim, e) Relacionar a presença de aulas culturalmente compatíveis na EJA à participação do professor no Curso: “Pedagogia intercultural com ênfase na identidade cultural” a partir da análise documental de planejamentos didáticos e diários de classe.



II- Metodologia do Estudo
Este estudo se desenvolveu predominantemente a partir do enfoque quantitativo, valendo-se do desenho quase-experimental intragrupal (pré e pós-teste). Conforme Aguado (2003), as reticências para a utilização de enfoques quantitativos ou quase-experimentais se devem a certos estereótipos e falsas distinções entre a metodologia quantitativa e qualitativa. Tal opção ratifica a necessidade de superar vícios e erros da admissão do paradigma quantitativo enquanto abordagem restritiva que exclui o não observável diretamente. Neste, o aspecto quantitativo ocupa a principal fase da ação investigativa, sem prescindir o alcance e análise da expressão subjetiva dos informantes a identificar-se com o seu aspecto qualitativo também considerado.
            Do estudo participaram 17 professores voluntarios da rede pública de ensino na EJA, em exercício no ensino fundamental (1º ao 9º ano), constituindo-se sua amostra intencional, caracterizada como pertencente a faixa etária dos 20 a 40 anos e de escolarização de nível superior. Os instumentos utilizados potencialmente na fase quase-experimental foram: a) Provas estandardizadas ou questionários auto-aplicáveis compostos de 08 questões fechadas e 02 discursivas (versão pré e pós-teste), versando respectivamente sobre: concepção de cultura, paradigmas da educação para a diversidade, valores da cultura regional e local, compreensão e interpretação de dilemas, posições e opções ideológicas diante de valores culturais diversos, a se identificarem com as dimensões da competência intercultural - conhecimento, habilidade e atitude intercultural; b) Intrumento de intervenção pedagógica ou Curso “Pedagogia Intercultural com ênfase na Identidade cultural’ dividido em 10 sessões de aprendizagem experimental e cooperativa. Encerra-se com a elaboração do Planejamento Estratégico para o Desenvolvimento da Competência Intercultural (PEDECI) e apresentação à comunidade local de um Workshop Intercultural; c) Pauta de análise de planejamentos didáticos e diários de classe a averiguar reflexos da aprendizagem desenvolvida no Curso. Fase de Intervenção pedagógica e sua posterior análise que se desenvolveu após fase exploratória sobre o universo curricular e de formação docente para a EJA no contexto sociocultural em análise.
A aplicação do Curso dá-se em espaço e horários definidos pelas partes envolvidas,  através de atividades teórico-práticas, compartilhadas potencialmente em grupo e a partir de eixos-temáticos com dimensões antropológicas: direitos humanos, aculturação, formas de etnocentrismo (ações etnoconfessionais, etnolinguísticas, xenofobia, xenofilia), estereótipos e preconceitos. Neste percurso, apresentam-se também estratégias metodológicas a se replicarem em sala de aula ao tempo em que se desenvolve tal aprendizado. A constituirem as 80 horas de atividades a se exercitarem com jogos interativos e de simulação, construção de mapas conceituais, resolução de conflitos e exercícios de habilidades comunicativas a manifestarem a visão cultural de cada participante cuja constituição se descreve como:
a)      O Bloco I é inteiramente dedicado à apresentação dos participantes e à adequada preparação do grupo para a temática do curso, para a sua metodologia e para a necessária participação cooperativa a qual se finaliza com a aplicação do pré-teste “Entre-culturas”;
b)      No Bloco II, estabelece-se o primeiro momento de reflexão crítica do grupo com o objetivo de medir o nível de percepção e compreensão da cultura do “outro” – uma questão de direitos humanos e suas implicações - a partir de um processo de conscientização dos elementos da própria cultura com a reapresentação e reflexão das propostas do pré-teste;
c)      No Bloco III, os participantes são convidados a refletir sobre a percepção de estereótipos e preconceitos em relação a identidades culturais diversas e possíveis equívocos destas interpretações/leituras. Tais equívocos muitas vezes gerados por uma tendência de interpretação precipitada por fortes influências de concepções, valores, crenças, etc., e decorrentes da cultura hegemonicamente privilegiada para a percepção e explicação das culturas alheias;
d)     O Bloco IV consiste na reflexão partilhada sobre a alteridade e suas complexidades – suas diversas dimensões, seu dinamismo, diferentes influências das experiências vividas e da interação com modelos culturais ao longo da vida o que favoreceu a valorização destes. Neste espaço comparam-se culturas diferentes com a do grupo;
e)      O Bloco V conduz à reflexão sobre as habilidades necessárias para o desenvolvimento da competência intercultural através da interpretação e comparação, aprendizagem e interação com “o outro”. Vários trabalhos em grupo geram a oportunidade de uma construção coletiva;
f)       No VI Bloco, os participantes refletem sobre as atitudes necessárias para que se concretize a competência intercultural por atitudes como: curiosidade, abertura, aceitação das diferenças culturais sem a interferência da visão etnocêntrica, ou seja, a mobilização para a geração de uma visão etnorrelativa cultural estabelecida através de imagens e visão sobre o outro na interação social e institucional.
g)      O Bloco VII constitui-se metodologicamente de vivências ou aplicações de jogos pedagógicos no qual os participantes se defrontam com o desafio de realizar tarefas em conjunto através das quais agem motivados por diferentes regras para perceberem causas e efeitos dos fenômenos de integração, assimilação e exclusão, vulgarmente desencadeados em situações de coexistência de culturas diferentes. Este passo formativo consolida os elementos desenvolvidos nos blocos anteriores e avança para a identificação dos conceitos e princípios da competência intercultural a exemplificar-se com a elaboração do Planejamento Estratégico para o Desenvolvimento da Competência Intercultural (PEDECI) de cada professor e unidade escolar.
h)      A seguir, no bloco VIII, explora-se a competência intercultural a partir do seu embasamento teórico para facultar reflexão estruturada sobre as estratégias facilitadoras para a sua propagação no meio sociocultural e educativo. Já vislumbrando o final do processo, este bloco dedica-se à fundamentação teórica da pedagogia intercultural, seus princípios e finalidades, experimentada em momentos anteriores;
i)        Num outro esforço de aplicação da reflexão prática e teórica sobre a competência intercultural, o Bloco IX conduziu os participantes à criação de estratégias para divulgar e potencializar o desenvolvimento da competência intercultural através da criação de um Workshop sobre o tema. Atividade apresentada como último desafio lançado aos participantes a expressar-se com a concepção, elaboração e apresentação desta prática socializando-a com a comunidade;
j)        Finalizando este processo formativo, aplica-se o pós-teste: “Entre culturas” a fim de que se promoção o cotejo entre os níveis (inicial e final) dos docentes em relação à competência intercultural apresentada pelo curso, o que determina o Bloco X. Associando esta avaliação ao que se expressa através das atividades desenvolvidas em processo: PEDECI, Workshop ou Mostra Intercultural além outras atividades propostas e realizadas conforme preconiza o desenvolvimento da competência intercultural – a soma da manifestação do conhecimento, da habilidade e da atitude intercultural.

Para a avaliação das duas tomadas, pré e pós-teste, toma-se como referencia a escala ordinal de Bennett e Hammer (2003), validada internacionalmente para medir o desenvolvimento da sensibilidade ou competência intercultural conforme descrição a seguir:




               
                                                                Tabela No 01 – Escala Ordinal do IDI
Nível
Conceito
Expressão
1
DD
Negação do outro
2
R
Trivialização do outro
3
M
Assimilação do outro
4
AA
Aceitação do outro
5
EM
Integração ao outro
                                                Fonte: Elaboração Própria a partir de Bennett e Hammer ( 2003)
           
III-  Resultados sobre cada Unidades de Análise
            Estes dados se configuram inicialmente apresentados nos itens primeiros itens (a, b e c) sobre a fase inicial da pesquisa denominada exploratória sobre a realidade a ser pesquisa e ainda desconhecida. Posteriormente, apresentam-se os dados da fase quase-experimental pré e pós-teste intragrupal.

a)      Documentos Curriculares da EJA em Sergipe
Sobre os projetos curriculares para a EJA em Sergipe, dois volumes dedicados respectivamente à 1ª fase e 2ª fase da EJAEF, datados de 2008, em revisão aos textos aprovados pela resolução 280/2006/CEE/SE, afirma-se que:
            Raros são os elementos que apontam a indicação ou referência ao espaço geográfico ou sociocultural a que tais projetos se destinam. Neles, apenas  se encontram: a palavra “Sergipe” nas capas dos projetos e a expressão “governo de Sergipe” no interior destes, mencionada uma única vez. Assim, caracteriza-se a identidade cultural dos projetos curriculares da EJA em Sergipe fortemente marcada pelo estigma da suplência, pela ordem mercadológica e pela ausência da consideração à Diversidade neste contexto educacional. Dados que indicam a incongruência entre estes os documentos analisados e o que se preceitua para a EJA à luz dos estudos de Haddad (2005) e Britto (2010) e corporificam a referência ao modelo rejeitado da adaptação ou assimilação cultural, interpretado como fator de prejuízo social para o elemento em situação de desprestígio social conforme Candau (2005) e Canen (2007).

b)      Discurso do Gestor Público Estadual e Municipal
Em entrevista a gestores da EJA (estadual e municipal), recolhem-se  informações sobre a formação do docente da EJA a se contrastarem com as informações resgatadas nos documentos curriculares a este respeito:
            Apenas uma capacitação aligeirada (16h), para um restrito quantitativo de 125 participantes da rede estadual em relação ao total 1709 professores que atuam na EJA. No municipio onde se desenvolve o referidoe estudo, recolhe-se a indicação de que nunca houve ação para a formação do docente da EJA apesar dos professore atuarem junto a este público discente desde 2006. Estes dados indicam a ausência de formação específica, o que segundo Nóvoa (1995) e Antunes (2001), deveria se constituir uma preocupação curricular. Por isso, reafirma-se a necessidade da proposta deste trabalho de campo a considerar Aneas (2003) e Aguado (2003).

            c) Desempenho do Professor no Pré-Teste
            Avaliando o nível de competência intercultural do professor ao entrar no Curso: “Pedagogia Intercultural...” demonstrado no gráfico a seguir, afirma-se:
                                        Gráfico No 01 – Nível de Competência Intercultural no Pré-Teste
                                      Fonte: Elaboração Própria a partir de Dados da Fase Experimental/ 2010

            Nas oito questões fechadas, analisada a relação intrasujeito, caracteriza-se a ausência de competência intercultural, identificada pela predominancia dos níveis: 1-DD, 2-R, ou próximos a 3-M encontrados em 93% da amostra a caracterizar um perfil etnocêntrico em relações culturais, bem como a situação idêntica a considerar as categorias nominais nas duas questões abertas do referido instrumento. Assim, identifica-se, no máximo, o nível 2-R de competência intercultural, na relação intrasujeito, antes da participação no Curso no pré-teste, a sinalizar estágios de uma visão etnocêntrica ou de representações sociais portadoras de prejuízo no processo de interação social (Aguado, 2003), distante da perspectiva intercultural (UNESCO, 1997).
            Caracteriza-se este professor como despreparado para atuar em espaço potencialmente marcado pela Diversidade e a confirmar a necessidade de uma formação capaz de ajudá-lo a atuar neste contexto. Segundo Candau (2005), instrumentalizá-lo a contestar o modelo compensatório, adaptativo ou assimilacionista como o identificado nos Projetos Curriculares da EJA do estado, analisados neste estudo, para ser capaz de lidar com a nódoa social incômoda da incapacidade imposta à EJA segundo Galvão e Di Pierro (2007).

            d) Competência Intercultural na Intervenção Pedagógica
            Como um “plus” à análise pretendida inicialmente por este estudo, apresentam-se algumas considerações a caracterizar potencialmente elementos qualitativos que se destacaram no desenrolar deste processo como relevantes para assinalar o desenvolvimento intercultural pretendido o que se exemplifica como:
1) Visão mais etnocêntrica (no ínicio do Curso) identificada como ausência de competência intercultural e expressa por preconceito, estereótipo, discriminação ao outro como se exemplifica em: - “Não uso camisa amarela”; “Bichinha! Quero bem longe de mim”;  “Quanto mais diversidade na sala, mais evasão”.
2) Visão mais etnorrelativa (no decorrer do Curso) a caracterizar o desenvolvimento da competência intercultural e expressar a percepção da relação entre a competencia leitora e práticas interdisciplinares ou necessidade de mudança de paradigma pedagógico, ou preocupação com a alteridade a exemplificar-se com: “Nosso aluno precisa de leitura e produção de textos e nós também”;  “Só quem interpreta bem este texto vai perceber tudo isso”;  “Quero fazer o melhor para que o meu aluno cresça”;            
Localizam-se ainda reflexos oriundos desta participação, analisado o desempenho nas atividades desenvolvidas e respectivos discursos a se refletirem como expressão de desenvolvimento intercultural: a) construção pedagógica do PEDECI; b) desenvolvimento de Mostra Intercultural; c) elaboração de projetos pedagógicos. Conforme Freire (2010), interessa um porcesso de formação docente concebido como uma ação a promover a mobilização do professor por mudança, incomodar-se com a situação vigente. Capaz de desenvolver a consciência em relação às políticas oficiais a afetar o currículo explícito e oculto, em prol da construção de relações democráticas e da superação do autoritarismo fortemente arraigado nas culturas latino-americanas, segundo Fleuri (2003).

            e) Desempenho do Professor no Pós-Teste
            O desempenho do professor nesta fase do processo situa-se entre os níveis 4 e 5 que se coadunam com os conceitos AA e EM respectivamente em relação à sensibilidade intercultural como demonstram os dados a seguir indicando:
                               
                         Gráfico No 02 – Nível da Competência Intercultural no Pós- Teste
                             Fonte: Elaboração Própria a partir de Dados da Fase Experimental/ 2010

            Significativo decremento nos níveis de expressão etnocêntrica, DD- 1 e R-2, presentes em 93% no pré-teste para 22%  no pós-teste e substancial incremento dos níveis de etnorrelativismo cultural ou identidade cultural, dos 3% no pré-teste para 78% no pós-teste. Apesar de diferenças tão relevantes, aplicada a estatística inferencial sobre os dados do estudo na relação intersujeitos a partir da prova “t de students”, para determinar o nível de significância 0,05 pretendido, utilizando o programa estatístico SPSS No 15 versão 2006, não se determina a relação causal almejada entre as variantes: Aplicação do Curso (VI) e Aquisição de Competência Intercultural (VD1).
      Segundo Silva (2002), desde a década de 90, a formação continuada em serviço é considerada uma das principais estratégias para o desenvolvimento de novo perfil profissional do docente. Embora, seja tarefa árdua, muito difícil de se conseguir, criar novas formas de promover aprendizagens, fora dos limites da organização escolar tradicional, é tarefa que impõe novo desafio para este processo principalmente no atual estágio de desenvolvimento social. Ainda segundo o referido autor citado, não basta uma maneira segura de ensinar o conhecimento de novas teorias no campo das ciências, o professor precisa cultivar atitudes de reflexão sobre sua prática em suas múltiplas determinações. Em consonância com tais posições teóricas, legitima-se a influência positiva alcançada no interior da iniciativa do Curso: “Pedagogia Intercultural com ênfase na Identidade Cultural”.            
           
            f) Expressão Cultural nos Planejamentos Didáticos e Diários de Classe
            Em análise documental aplicada sobre planejamentos didáticos e registros dos diários de classe a observar a manutenção da aquisição de competência intercultural no referido Curso, encontra-se a adoção do modelo “aulas culturalmente compatíveis” no material encontrado na análise a expressar-se como sinalizador do desenvolvimento da competencia intercultural e a indicar a intenção de continuar atuando segundo o aprendizado adquirido. Segundo Canen (2007), a simples referência à mudança da disposição das cadeiras na sala de aula já pode indicar disposição para o desafio de estruturas homogêneas, tradicionais, podendo representar intenção para a inclusão de diferentes vozes na formação da identidade cultural

À guisa de Conclusão
Na tentativa de concluir a apresentação deste estudo, é possível afirmar que, a pesar de variantes intervenientes como: a) dificuldade para trabalhar com amostra intencional pequena (T=17) e constituída de professores em exercício; b) dificuldade do professor manifestar a sua ignorância em relação a alguns temas tratados em provas; c) dificuldade de conduzir a formação docente com significativa ausência de competência leitora e escritora dos profesores, é possível apontar o cumprimento do objetivo central deste estudo: Determinar a influência do Curso baseado na Pedagogia Intercultural com ênfase na identidade cultural sobre a atuação do docente na Educação de Jovens e Adultos em Sergipe, baseando-se, especialmente, na nova postura encontrada no professor após esta realização a explicitar-se no perfil desenhado no quadro a seguir:

Quadro No 03 – Indicadores de Desenvolvimento de Competência Intercultural Docente (IDECID)
Competências Interculturais e suas dimensões
Conhecimentos
Habilidades
Atitudes
Reconhecimento da cultura como elemento de ensino
Interpretação de fatos, idéias de outras culturas
Demonstração de curiosidade e abertura para o outro
Identificação, na ação pessoal, reflexos da herança cultural que expressa valores e prejuízos
Comparação da cultura do outro com a sua
Disposição para questionar os próprios valores
Avaliação da relação: identidade cultural e interculturalidade
Aprendizagem com a cultura de outros
Adoção do lugar do outro
Compreensão das diferenças como elemento de afetação no desenvolvimento pessoal
Trabalho em equipe

Crédito conferido ao potencial do outro
Identificação do enfoque pedagógico apropriado para respeitar as diferenças
Desenvolvimento de aprendizagem colaborativa
Valorização da expressão cultural do outro
Conhecimento do potencial dos preconceitos e estereótipos em instrumento de avaliação e interpretação de características culturais
Afrontamento e resolução de problemas/ conflitos de forma criativa
Envolvimento ativo com o problema enfrentado por outro

Perfil do Docente
Flexibilidade/abertura de se auto-avaliar
Solidariedade na percepção do outro
Autonomia para tomada de decisões para o bem do outro
Fonte: Elaboração própria/ 2010

Baseando-se nos elementos já menciados, corrobora-se o pioneirismo desta proposta para atender à demanda por formação docente para a EJA apresentando-a como referência para futuros estudos a considerar o aporte teórico produzido por este a exmplificar-se com: 1) Instrumento de diagnóstico sobre a realidade cognitiva em torno do tema (pré-teste); 2) Projeto do Curso:Pedagogia Intercultural com ênfase na Identidade Cultural; 3) Instrumento de verificação da aprendizagem desenvolvida (pós-teste); 4) Orientações para a utilização dos respectivos instrumentos; 5) Sugestões Metodológicas aplicáveis à  EJA a partir da orientação intercultural (Almeida, 2012).

Referências
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